23 fevereiro 2013

De Cabeceira: Os Subterrâneos.


  Todo mundo tem um livro de cabeceira. Aquele incrível, cujas laterais já estão ficando desgastadas de tanto você pegar pra ler seu trecho preferido todas as noites antes de ir dormir. O primeiro na sua fileira de livros da estante, e o ultimo a ser mencionado quando a sua melhor amiga pergunta se você tem um livro pra emprestar – porque, admita, emprestar seu livro de cabeceira é um martírio – e, acima de tudo, o livro sob o qual você adora falar, discutir, defender e todo esse tipo de coisa que só verdadeiros admiradores costumam fazer. Pois bem, é desse apego que se trata ‘’De Cabeceira’’, a coluna quinzenal do Três Versos onde nós, editoras, contaremos um pouco sobre nossos livros de cabeceira – e escritores também!

  Quando eu soube que seria eu quem deveria inaugurar a coluna, não precisei pensar duas vezes antes de decidir sobre o que eu deveria escrever: Os Subterrâneos, de Jack Kerouac. A verdade é que quem me conhece – e até quem não conhece – sabe do meu fascínio pelo estilo frenético, jazzístico e exacerbado das obras de Kerouac. Sou uma fã assídua, essa é a verdade, e certamente não me oponho a enaltecer as obras de meu escritor preferido; eu adoro


  ''Os Subterrâneos'' (1958) nasceu do mesmo tipo de inspiração repentina que produziu a obra mais famosa de Kerouac, On the Road. Carregando os contornos semi autobiográficos bastante comuns aos livros de Jack, a história conta a ascensão e o declínio do romance entre Leo Percepied – Alter ego do escritor – e Mardou Fox, uma moça metade Cherokee, metade negra – ambos membros de um grupo de hispters, artistas e visionários vivendo à margem da sociedade em uma São Francisco boêmia e underground.


  Partindo de um ponto de vista mais pessoal e menos crítico, posso dizer que livro é incrível e impactante de uma forma que poucos livros conseguiram ser. Seja por sua prosa ousada ou o modo como os pensamentos mais sinceros do autor vem a tona em rompantes inesperados ou ainda pelo fascinante retrato da geração beat, é em ‘’Os subterrâneos’’ que eu encontro conforto em uma tarde monótona.

Jack Kerouac



‘’Eu vou para casa tendo perdido o amor dela. E escrevo esse livro.’’- Ultimo trecho de Os Subterrâneos, Jack Kerouac.

  Diz a lenda que o livro foi escrito em três dias e três noites, por um Kerouac movido a benzedrina, logo após o fim do seu relacionamento com a moça pelo qual o escritor se apaixonou na Nova York dos anos 50. Seja qual for a verdade, é exatamente essa a impressão que causa ao leitor ao se deparar com o ritmo frenético com que a história é contada. Quase não há pontuações e são incontáveis às vezes em que a história é interrompida por longos trechos postos entre parênteses que quase sempre apresentam algum tipo de ideia repentina do autor, misturando o texto a relatos e reflexões (O que deixa em evidencia a técnica do fluxo de consciência), fazendo de ‘’Os Subterrâneos’’, talvez, a obra mais egocêntrica de Jack, o que ele deixa claro saber em um trecho do livro posto em mais um dos seus infindáveis parênteses:


  ‘’(Difícil fazer uma confissão de verdade e dizer o que aconteceu quando se é tão egomaníaco que se enche longos parágrafos com detalhes insignificantes sobre si próprio enquanto os detalhes importantes espirituais sobre os outros ficam esperando num canto.)’' - Página 8. 



  Seu escritor, Jean Louis Lebris de Kerouac (Jack), nasceu em Lowel, Massachusetts, em 12 de março de 1922 e morreu em 21 de Outubro de 1969, em função do consumo excessivo de bebida alcoólica, depois de passar longos dias isolado do convívio humano sofrendo com alucinações e paranoias. Jack deixou vinte livros de prosa e dezoito de ensaios, cartas e poesia. Marcou uma geração, foi considerado o ‘’Pai do Beats’’ e influenciou e continua influenciando pessoas de todas as idades.


‘’Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.’’
                                                                                                                                                                           ― Jack Kerouac.


E quanto a você, leitor. Qual o seu livro de cabeceira?


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